quinta-feira, maio 03, 2012

Sara Kali

Sara Kali de origem tão misteriosa quanto a dos ciganos, é um mito que atende a todos requisitos das tribos espalhadas pelo mundo. É negra, ou melhor, de pele escura, como os egípcios e indianos. Kali em sânscrito antigo, quer dizer negro, e é do sânscrito que vem a língua romani que os ciganos falam em vários dialetos distintos. Dai também a dedução que Sara teria origem indiana e não egípcia, embora o culto da Grande Mãe tivesse se espalhado pela região, onde supostamente ela teria vivido- a Palestina.
É bom lembrar que a confusão sobre a origem dos ciganos também inclui a suposição sobre os lugares  de origem, que são os mesmos de Sara. Alguns historiadores insistem em dizer que os ciganos se originaram do Egito. Se fosse assim, a língua cigana, o romani, que é o traço mais forte de identificação de um povo, teria origem nos hieroglifos egípcios e não no sânscrito antigo, o que encerraria a discussão sobre o assunto.
Conhecida em toda Europa como a Padroeira dos Ciganos, Sara é pra história, um enigma.
Diz a tradição da terra de Camargue que Sara teria acompanhado as Marias Jacobé e Salomé. Não existe nada registrado pelo Vaticano. Nem mesmo o que o Vaticano revela sobre Maria Salomé, comprova que ela tivesse vivido em Camargue.
Uma outra tradição reconhece Sara como cigana - Kali, ou Kalin, significa ao mesmo tempo mulher cigana, na língua dos Kalé ( ciganos de Portugal e Espanha ); e negra em outro dialeto cigano.
Para os calóns, Sara teria vivido na atual Camargue, e livre, teria abrigado os amigos de Jesus. No entanto, não se sabe por que a teriam adotado como protetora.
Alguns acreditam que Sara a egípcia, foi abadessa de um convento na Líbia, sendo festejada pela igreja no dia 13 de julho. Ou também de uma outra Sara, que figura num grupo de mártires persas com duas Marias e uma Marta, e cujas relíquias foram encontradas em Gália.
Ninguém sabe quem é Sara, nem como seu culto se instalou em Saintes-Maries-de-la-Mer. A primeira menção ao nome de Sara está num texto de Vincent Philippon, redigido a mão, em 1521, chamado "A Lenda das Santas Marias" e se encontra na biblioteca de Arles, à dez léguas de Saintes Maries. Nele o autor conta que Sara cruzou Camargue à pé, pedindo ajuda pra socorrer uma pequena comunidade de cristãos. Essa prática, a que o autor chamou de "china" era vergonhosa, e que assemelhava ao que faziam e fazem os ciganos até hoje, por isso essa Sara era chamada de Kalin ( cigana ).
Os ciganos nunca disseram nada sobre a questão de Santa Sara.  Eles seguem a risca uma tradição que para a maioria não tem explicação racional. Sara é para os ciganos, muito mais que um nome, uma história. Cercada de mitos e lendas, é padroeira de um povo com essas mesmas características. Ídolo pagão, dizem alguns. Mas não podemos esquecer do que é o culto a Santa Sara, da energia de sua cripta, do vigor de sua procissão, da multidão atrás dela marchando em direção ao mar, rezando fervorosamente, sem os estigmas desse ou daquele credo. Gente que caminha também em direção à Deus. Se Sara é um ícone, um mito, uma lenda, pouco importa. O mais importante é que ela assegura àqueles que vão a Camargue, que eles não estão sozinhos e que ela mesma, Sara, é um pedacinho de Deus.
Como mãe, irmã ou mulher, Sara encarna a imagem de cúmplice perfeita. As pessoas lhe confiam seus cônjuges, seus filhos, as doenças que desejam vencer, suas dívidas e muito mais. É tudo que precisam. Sara é cúmplice. Aquela que não critica, que não censura e que só se manifesta se puder ajudar. Caso contrário, Sara continua sendo só ouvidos. E desabafar tem para o povo das estradas, um grande valor. Significa esvaziar de  mágoas o coração, pois quem vive errando pelas estradas da vida não pode se ocupar de mágoas...e magoar-se é sobrecarregar demais o coração. Um peso que a gente de viagem não quer levar na bagagem.


Fonte: * Os mistérios de Santa Sara - O retorno da Deusa pelas mãos dos Ciganos.
      
             Sibyla Rudana.

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