sábado, agosto 25, 2012

Esmeralda

Ainda havia cinzas da fogueira no acampamento. O sol entrava, num pequeno raio, pela janela da tenda de Esmeralda, que ainda dormia. Os panos coloridos da tenda balançavam ao sabor da brisa que soprava. O acampamento acordava devagar. No ar, o cheiro forte do café tropeiro, que só Zaíra sabe fazer. De repente, o grito de Yan, chamando:
- Esmeralda, acorda, faz-te linda e vai ao povoado para a leitura de mãos, e não te demores, olhando o mercado como das outras vezes.
- Esmeralda, vamos acorda!
Esmeralda espreguiçou-se lentamente, abriu os grandes olhos verdes, e saiu dos lençóis, pensando: "Que pena, ainda estou tão cansada, dancei muito ontem, mas é minha obrigação, vou ao povoado e antes do sol esquentar muito, voltarei."
Foi até um riacho, lavou o rosto, voltou saltitante para tenda e olhou-se no espelho. Colocou no cabelo uma rosa vermelha, sentiu-se bem e pensou: "como é linda a vida". Saiu da tenda.
- Nani, onde está meu café?
- Aqui está, tome e obedeça seu pai! E lá se foi a cigana na garupa do cavalo de Mikhael, seu prometido, até o povoado.
Por onde passava, todos se voltavam para vê-la. É linda!
No mercado, começava a lida de um novo dia.
- Flores, cigana? - Pensando nas palavras do pai, lá se foi ela.
- Olhem, vamos ver a sorte?
Homens e mulheres paravam pra escutar o que lhes diria a cigana, e ela sorria matreira, escondendo nos seios a féria do dia.
No terceiro dia de ida ao vilarejo, Esmeralda avistou um rapaz sentado, em frente ao mercado. Foi até lá e perguntou: - Moço, deixa eu ler a sua mão? O que terá sua sorte reservado pra você?
- Não cigana, não acredito em sorte. Olhando pra Esmeralda, com os olhos pregados na beleza da cigana, sem sentir, estendeu as mãos para ela, que começou logo a leitura.
- Olha moço, vejo um amor que vai te fazer chorar. Faça tudo pra evitar esse amor, pois ele será impossível. Não sofras por amor, segura os impulsos do teu coração.
Deu-lhe um lindo sorriso e saiu.
Foi andando e olhava pra trás, onde o moço continuava sentado, estarrecido com a beleza da cigana. Passaram-se três dias, e Esmeralda não retornou ao vilarejo.
Exausto de esperar pela cigana, e já perdido de paixão, o moço resolveu procurá-la. Foi perguntando daqui e dali, e soube do acampamento. Esperou anoitecer e foi até lá.
Ficou encantado, parecia um sonho: panos coloridos, lanternas de várias cores...Escondido onde estava, escutava as palmas, o violino de Igor e via Esmeralda em volta da fogueira dançando com Yunesco, seu irmão de leite. A noite estava linda, estrelas no céu, e o cheiro do assado estava no ar.
De repente, alguém viu o rapaz, e perguntou: - O que faz aqui? Hoje, não teremos convidados. A noite é só nossa.
- Por favor, deixe-me vê-la dançar!
- Não, hoje, não! Quem sabe outra noite, vá embora!
Muito a contragosto o rapaz partiu.
Não lhe saía da cabeça o sorriso e o encanto da cigana. "Meu Deus, o que faço agora?"
E olhando a mão, pensou: "Ela me avisou, porque não a ouvi?"
Começou a chover uma chuvinha miúda e irritante e o coração do rapaz se apertava. Quando chegou ao acampamento, a chuva apertava. Ficou boquiaberto, não existia nem rastro dos ciganos. Só as garrafas pelo chão e uma fogueira no fim, de onde saía uma fumaça fina e ondulante, com o vento, que lhe espanava no rosto um pouco da chuva e das lágrimas.
Esmeralda e seu povo se foram para onde, para quê?
E o rapaz, desesperado, chorava seu amor impossível, perdido, como havia previsto a cigana.


*Sally Edwirges Esmeralda Liechocki














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